domingo, 30 de novembro de 2014

Os Anasazi

Palácio do Penhasco ou Cliff Palace noParque Nacional de Mesa Verde
Os Anasazi eram um antigo povo indígena norte americano que viveu onde hoje fica o Four Corners, nos Estados Unidos, cerca de 1.200 a.C. A sua civilização deixou vários monumentos litúrgicos em diferentes locais, dos quais dois destes foram classificados como patrimônio mundial pela UNESCO . Os restos encontrados mostram um conhecimento de cerâmica, tecelagem e irrigação. Além disso faziam observações dos movimentos solares e usavam símbolos que, até o momento, não foram decifrados. Considera-se que os atuais descendentes dos índios Anasazi são os índios pueblo (como os Zuni e os Hopis) mas não se sabe ao certo se realmente existe continuidade étnica entre estes povos e os anasazi ou apenas continuidade geográfica. 

Etimologia

A civilização dos Anasazi desapareceu completamente antes da chegada dos europeus à América. Não se sabe, já que não existem provas escritas, como se auto-intitulavam os anasazi e a sua conexão étnica com povos modernos é alvo de discussões. De fato o nome anasazi é apenas o nome que os navajos contemporâneos dão ao antigo povo construtor de cidades. A palavra anasazi significa «os antigos» ou « os antigos inimigos»  em língua navaja. Os índios hopi usam a palavra a Hisatsinom já que consideram a palavra anasazi desrespeitosa. Por último, os historiadores sob a designação anasazi agrupam algumas culturas similares que residiram na mesma zona como os hohokam, los mogollon e os pataya, que desapareceram todas antes do século XVI.

Fontes

Existem diversas fontes para reconstruir a existência do anasazi:
  • Os relatos tradicionais dos povos ameríndios, transmitidos oralmente. O artesanato e as crenças dos descendentes dos anasazi permitem formular uma série de sérias hipóteses.
  • O testemunho dos conquistadores espanhóis que exploraram a região a partir do século XVI. A expedição mais importante foi a de Francisco Vásquez de Coronado, que procurava a cidade do ouro de Cíbola. As crónicas e cartas enviadas pelos exploradores são uma importante fonte de informações, se forem avaliadas com cuidado.
  • Nos finais do século XIX, os agricultores Charley Mason e os irmãos Wheterill descobriram importantes locais anasazi. As escavações começaram realmente com o sueco Gustav Nordenskjöld. O clima árido da região permitiu uma boa conservação de milhares de objetos em FIBRA vegetal (lanças de madeira, flechas de cana, tecidos de algodão) ou animal (tendões, peles). Vários esqueletos têm sido estudados por antropólogos, que apresentaram dados sobre a SAÚDE, a alimentação e a morfologia dos anasazi.
O seu desaparecimento está relacionado com a lenda do pássaro de fogo, o qual se acredita que as suas aparições coincidiam com certas datas de alinhamento estelar.

Cronologia

Contexto geral


A região dos anasazi (a rosa) e as culturas vizinhas Hohokam (a amarelo) e Mogollón (a verde). As zonas arqueológicas mais importantes são os de Mesa Verde, Canyon Chaco eAcantilado Gila. Esta zona forma super-área cultural da Oasiamérica.
Segundo as últimas teorias, os primeiros povoados na América datam de pelo menos 20 mil anos. Os primeiros indígenas sedentarizaram-se no Sudoeste da América do Norte à cerca de 12 mil anos. Os arqueólogos desenterraram ferramentas de pedra desta população na povoação de Clóvis. Caçavam animais de grande porte como os mamutes, já extintos. Após a última era glaciar, o clima ficou mais quente e seco. Na América Central, os olmecas cultivavam milho (já desde o segundo milênio antes de Cristo). Foram substituídos por sucessivas civilizações de Teotihuacán, zapoteca e astecas. Os últimos foram contemporâneos do apogeu da civilização anasazi. Com a chegada dos espanhóis no século XVI as culturas ameríndias sofreram mutações radicais. Os grandes impérios desapareceram e os índios Pueblo substituíram os anasazi.

História da cultura anasazi

A história dos anasazi continua um mistério devido à ausência de provas escritas. No entanto, através da arqueologia, é-nos permitido estabelecer uma data cronológica aproximada. A região sudoeste dos EUA foi ocupada por povos de tradição Sohara (5500 a.C - século IV). Os Basketmakers (cesteiros) ocuparam as áreas montanhosas e semi-áridas, pouco antes da época cristã. Os anasazis sucederam os cesteiros no século VIII. A progressiva mudança da caça para a agricultura e a consequente fixação permanente fez emergir uma nova cultura chamada de Pueblos referindo-se às povoações construídas com tijolos pelos anasazi de Mesa Verde nas falésias dos grandes desfiladeiros do Colorado. O inicio desta nova cultura (período Pueblo I, 700-900) é caraterizada por pequenas casas solitárias de algodão. O período Pueblo II (900-1100) marca o auge da cultura anasazi, é assinalado por um enriquecimento de ornamentos. O período Pueblo III (1100-1300) marca o declínio da cultura e a ocupação da Mesa Verde por novas aldeias primitivas. A partir do ano 1300, os anasazis refugiaram-se no vale do Rio Grande e no centro do Arizona. Deixam-se de encontrar vestígios dos anasazi pouco antes da chegada dos espanhóis. As razões desse êxodo não são conhecidas. Contudo existem diversas hipóteses como: mudanças climáticas que ameaçavam as culturas, o aumento da população, problemas políticos ou talvez guerra. No entanto dada a ausência de documentos escritos e da limitação do conhecimento atual não é possível provar nenhuma dessas hipóteses.

Cultura anasazi

Situação e meio natural 

Os arqueólogos encontraram vestígios da cultura anasazi em quatro estados dos Estados Unidos da América (Utah, Colorado, Arizona e Novo México). Apesar das grandes paisagens, as condições naturais não são as melhores para a sobrevivência humana. Esta zona é marcada pela aridez que torna grande parte desta desértica ou semidesértica. Os principais rios que atravessam estas terras são o Rio Grande e o Rio Colorado. A latitude é outra penalidade: os Invernos são frios e a neve pode cobrir todo o solo. A diferença de temperatura entre o Verão e o Inverno é bastante considerável. A leste, as Montanhas Rochosas atingem os 4000 metros de altitude. A área da cultura anasazi estende-se pelos planaltos do Colorado, atravessada por rios e riachos. A geologia da região é bastante complexa e oferece todos os tipos de materiais desde arenito a rocha vulcânica. A flora e a fauna dependem da altitude, da aridez e da natureza do sedimento. No entanto os anasazi sabiam como usar os recursos naturais da região e ao mesmo tempo respeitar o equilíbrio natural. Recoletavam folhas de mandioca, dominavam a técnica da irrigação e importavam os recursos que não existiam na região.

Culturas vizinhas

Os anasazi tinham contacto com outras culturas vizinhas próximas (ver mapa) como os hohokam e os mogollon. Estes são as culturas vizinhas dos anasazi mais populares. Compartilham várias características, a tal ponto que os cientistas os agrupam sobre a mesma categoria, como a irrigação, a caça, a construção de povoações em adobe, tijolo ou pedra, a cerâmica decorada e as relações comerciais com a Mesoamérica. Contudo diferem noutros aspetos pois os hohokam cremavam os seus mortos e os mogollon eram sobretudo caçadores.

Aspetos materiais e tecnológicos

Povoações


Ruínas anasazi, Desfiladeiro deChelly - Arizona.
Graças à arqueologia conhecem-se várias casas e povoações anasazi. As casas mais antigas eram muito modestas, pequenas casas primitivas mas suficientemente grandes para alojar uma família. Tinham bases pouco profundas. O teto era feito com terra e galhos. Com o crescimento demográfico as famílias são agrupadas em aldeias. Este feito demonstra uma organização coletiva mais ou menos consciente do espaço. A partir do século X, estas aldeias alojavam várias centenas de pessoas. Situavam-se em planaltos como o Cañón Chaco (950-1100) ou abrigados sob os penhascos de Mesa Verde (1100-1300). Os anasazi escolhiam lugares de difícil acesso para se instalarem. Várias povoações foram construídas debaixo de penhascos, no século XIII. Algumas escavações foram feitas nas paredes de gigantescos desfiladeiros. Os povoados, devido à sua orientação, estão protegidos da chuva e neve no Inverno e do calor no Verão. Ainda servia de proteção natural contra ataques inimigos. Contudo as povoações situavam-se longe dos campos de cultivo sendo pouco acessível aos seus habitantes. Ainda permanece um mistério o porquê dos anasazi terem construído as suas casas num local tão remoto.

Materiais usados nas habitações anasazi. Wupatki National Monument,Arizona.
As paredes das casas eram feitas com uma espécie de adobe aplicadas a uma grade de madeira e eram chamadas de jacal no México. As construções melhor conservadas tinham uma estrutura de pedra unida por argamassa. Também sabiam cozer o tijolo. Em várias aldeias, nalgumas casas encontram-se vestígios de pintura decorativa sobre um revestimento de gesso, argila ou diretamente sobre o adobe. O telhado era coberto por camadas de argila e ramos. As casas inicialmente possuíam um só nível mas podiam elevar-se em mais dois níveis. Várias salas retangulares no rés-do-chão eram reservadas para armazenamento de alimentos. A vida quotidiana realizava-se sobretudo nos terraços das casas. Nestes povoados, os arqueólogos têm-se interessado sobretudo pelas plaza e pelas kivas. As kivas, inicialmente reservadas para o descanso, acabaram por ser usadas para cerimónias religiosas.

Agricultura e Alimentação


Muflão: Nas áreas montanhosas, aonde não era possível praticar a agricultura, os anasazi caçavam estes animais.
Os anasazi, agricultores sedentários, cultivavam campos situados nas proximidades das suas casas. Produziam milho, feijão, abóbora e tabaco. Todas estas plantas são nativas da Mesoamérica e foram fundamentais na história das civilizações pré-colombianas. Os campos estavam localizados em planaltos que podiam atingir os 2000 metros acima do nível do mar. Em altitudes mais elevadas as condições seriam demasiado duras para a agricultura. As suas ferramentas agrícolas eram feitas de pedra e madeira (enxadas, pás) pois os anasazi não dominavam as técnicas metalúrgicas.

Taça decorada de cerâmica, século XI-século XIII, Cañón del Chaco.
Por outro lado, este povo adaptou progressivamente técnicas de irrigação provenientes do México, quer extraindo a água dos rios, quer de reservatórios de água da chuva. Construíram pequenas barragens, canais e reservatórios que provam uma organização comunitária. Uma parte da colheita era armazenada em casas para ser usada em períodos de falta de comida. Secavam o milho e a abóbora e armazenavam-nos. Usavam pinhões, extraindo-os das pinhas aquecendo-as, em bolos ou comiam-nos diretamente. As sementes de girassol, uma vez sem a casca, eram armazenadas em jarras. Os cereais armazenavam-se em recipientes fechados para protege-los dos roedores e insetos. No século Vcomeçaram a fazer peças de cerâmica decoradas com linhas ou pontos. Posteriormente o desenho foi-se desenvolvendo com representações de animais e de ser humanos. As cores usadas nas cerâmicas diferem de região para região: preto e branco no Colorado, preto e vermelho no Arizona, vermelho e camurça no Utah. A cerâmica acabou por evoluir de tal modo que acabou por ficar ricamente decorada com padrões.
Apesar de se terem tornado sedentários, os ameríndios do sudoeste americano nunca abandonaram completamente a caça-recoletora praticada pelos seus antepassados. Pinhões, bagas, frutos silvestres e figos completavam a DIETA destes povos. A caça era feita nas "mesas" (bisontes, veados, antílopes) ou nas montanhas (veados e muflões). Capturavam animais menores (coelhos, esquilos e pássaros) com redes de mandioca.

Artesanato e comércio


Turquesas encontradas em Chaco Canyon.
Os anasazi teciam algodão para fazerem mantas e camisas e usavam outras FIBRAS vegetais (yucca) e peles ou couros para as roupas. Usavam sandálias e sapatos, estes provavelmente adaptados aos meses de Inverno.
Usavam jóias mas não muito elaboradas como colares, brincos e pulseiras, usavam escovas e pentes de madeira, osso ou coral ou de pedras preciosas como a turquesa. Também se encontraram instrumentos musicais como flautas feitas de osso.

A yucca era utilizada no artesanato anasazi.
Os anasazi importavam conchas da Califórnia, pérolas de cobre e papagaios do México. Os comerciantes utilizavam uma vasta rede de trilhos mas não tinham rotas de comércio definidas como o os Incas. E, ainda por cima, os rios da região não eram navegáveis.
Pueblo Bonito em Chaco Canyon, foi confirmado como o grande centro comercial dos Anasazi. A região é atravessada por um grande número de caminhos que ligam uma centena de aldeias. Os Anasazi não tinham um sistema monetário, por isso usavam o sistema de troca directa.
Na sua vida quotidiana, os Anasazi usavam ​​diferentes objetos, atualmente muitos deles estão expostos em grandes museus americanos, como:
  • Cestas (cestas de yucca, vime e sumagre) com múltiplos usos, por exemplo, como mochila para carregar ferramentas, madeira e alimentos.
  • Objetos de cerâmica e olaria como urnas, tigelas, jarros, jarras, colheres e estatuetas.
  • Ferramentas e armas de pedra, tais como: pontas de flechas, martelos, facas de obsidiana, furadores para trabalhar o couro, machadosde silimanite e de limonite.
  • Objetos para tecelagem de algodão e costura de couro (agulhas de osso).
  • Fio (por vezes feito de cabelo), cordéis e corda de yucca.

Referências

  1. Ir para cima Mesa Verde National Park - UNESCO World Heritage Centre (em inglês).
  2. Ir para cima A série de ficção-científica The X-files faz referência a petróglifos e a pictogramas feitos pelos Anasazi no deserto e ao seu carácter misterioso.
  3. Ir para cima The Mystery of the Anasazi - New York Times (em inglês).
  4. Ir para cima Wolfgzng Lindig, Die Kutlturen der Eskimos und Indianer Nordamerikas, Wiesbaden, 1972, página 59
  5. Ir para cima Hewit Institute, on Pueblo Indians (em inglês).
  6. Ir para cima Jerry J. Brody, Les Anasazis…, página 110.
  7. Ir para cima Museu Americano de História Natural (Nova Iorque), Maxwell Museum of Anthropology (Albuquerque).

Guerras e Conflitos


Segundo o dicionário Michaelis, Guerra é uma luta armada entre nações, por motivos territoriais, econômicos ou ideológicos. Também é um conflito armado pelo controle político entre diferentes grupos dentro da mesma nação, a chamada guerra CIVIL.
São vários os motivos que podem estar por trás de uma guerra, dentre eles a disputa pelo poder, motivações econômicas, a imposição de ideias ou cultura, o confronto entre causas sociais e motivos religiosos ou de etnia.
Uma guerra pode ser classificada em diferentes formas de acordo com as causas, o seu desenvolvimento, a intensidade e outros. O que se pode notar é que uma guerra geralmente tem MAIS de um motivo, o que pode classificá-la em mais de uma modalidade. Confira algumas modalidades e exemplos:
Modalidade – Intensidade
  • Guerra Total: é um conflito que envolve todos os recursos de um Estado e de uma sociedade. Exemplo: I Guerra Mundial, II Guerra Mundial;
  • Guerra Intermitente: é um conflito reincidente, onde podem ter períodos de conflitos e períodos de calma. Geralmente acontecem pós independência, quando as Nações não estão totalmente consolidadas. Exemplos: Guerra dos Cem Anos (França e Ingraterra), na ex-Iugoslávia, Afeganistão e Guerras do Congo.
Modalidade – Abrangência
  • Guerra Mundial ou Global: é um confronto que envolve várias nações, CONTINENTES, geralmente pela liderança do mundo. Exemplo: I Guerra Mundial e II Guerra Mundial;
  • Guerra Interregional: é um conflito que envolve dois ou três países geralmente por lideranças regionais. Exemplo: Guerra do Paraguai.
Modalidade – Desenvolvimento do Conflito
  • Guerra CIVIL: É um conflito dentro da própria nação. Exemplo: Guerra dos Farrapos (Brasil) e Guerra Civil Espanhola (Espanha);
  • Guerra Fria: Através de conflitos indiretos, COMO espionagem, subversão, corrida tecnologia, nações se confrontam por uma liderança. Exemplo: Estados Unidos e a antiga União Soviética.
  • Guerra Revolucionária: ocorre durante uma revolução onde um dos lados tem a intenção de tomar o poder. Exemplo: Revolução Russa.
Modalidade – Bélico ou causus belis
  • Guerra Comercial ou Econômica: envolve causas econômicas. Exemplo: embargo à África do Sul no Apartheid.
  • Guerras Religiosas: motivação religiosa, geralmente a imposição de uma religião. Exemplo: Cruzadas e Guerra SANTA.
  • Guerras de Secessão: é uma guerra civil com a motivação separatista de uma região. Exemplo: Guerra da Secessão e Guerra do Kosovo.
Guerras e Conflitos existem há muitos anos. Na história podemos conhecer vários exemplos, desde a antiguidade, como a primeira guerra de que se tem relato, em Lagash. Essa cidade, localizada na Suméria, teria travado uma guerra CONTRA Umma, outra cidade da mesma região, por rivalidade econômica, territorial, política e também disputavam matéria-prima. Essa guerra se deu em torno do ano 2525 a.C. No chamado período clássico (séculos V e IV a.C.) gregos e persas também entraram em conflito. Já de 264 a.C. e 146 a.C. ocorreram as Guerras Púnicas, entre Roma e Cartago, por motivos econômicos, político e militar. Ao fim da guerra, Cartago ficou totalmente destruída. A guerra ganhou esse nome pelos romanos chamarem os cartagineses de punici (depoenici, ascendência fenícia). Dos anos 133 a.C. a 27 a.C. sucessivas guerras civis assolaram a história ROMANA levando-a de república a império. Na chamada sociedade contemporânea estão às guerras mais recentes, como a Guerra da Secessão, I e II Guerras Mundial, Guerra Fria, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque e, as revoluções estão acontecendo no momento, a Revolta Árabe.
Confira uma cronologia das principais guerras e conflitos que aconteceram na história do mundo: 
Ao FINAL de guerras e conflitos, o objetivo pode ter sido alcançado e a paz restabelecida, mas muitas consequências assolam as nações envolvidas. Muitas cidades ficam destruídas, necessitando de sua reconstrução, várias pessoas morrem, muitos ficam feridos, às vezes com sequelas físicas e/ou psicológicas, muitas doenças aparecem, além de muito dinheiro ser gasto.
Curiosidades Bélicas
  • Alexandre, o Grande, ordenou que todos os seus soldados raspassem a cabeça e o rosto. Ele acreditava que a barba e cabelos longos poderiam facilitar a tentativa de uma degolada;
  • O lixo nuclear de usinas nucleares (Urânio exaurido, uma substância MAIS densa que qualquer metal) pode ser usado para revestir mísseis e bombas. É usado em diversas armas recentes;
  • A guerra mais rápida da história durou 37 minutos. Uma esquadra inglesa decidiu ancorar no porto de Zanzibar, na África, em 1896, para ASSISTIR a uma partida de críquete. O sultão de Zanzibar não gostou e mandou que seu único navio atacasse os ingleses. Quando o navio abriu fogo, os ingleses o afundaram rapidamente e ainda destruíram o palácio do sultão, matando quinhentos soldados. Zanzibar se rendeu na hora e o sultão fugiu para a Alemanha;
  • Na Primeira Guerra Mundial, canários e ratos foram usados como cobaias pelos aliados sempre que se cavava um túnel nas proximidades da linha dos inimigos. Era para detectar a presença de algum gás, principalmente o Gás Mostarda, devido à guerra química que se iniciava;
  • o fósforo branco, agente químico que faz pessoas se inflamarem ao contato com o ar, continua sendo usado como arma até o dia de hoje mesmo por países desenvolvidos, apesar do Protocolo de Genebra;
  • Em 1969, eclodiu uma guerra entre El Salvador e Honduras durante um jogo eliminatório para Copa do Mundo de Futebol (a guerra do futebol).
Referências

Documentos e manuscritos de Charles Darwin estão disponíveis na internet

Em 2014, a icônica “A Origem das Espécies” de Charles Darwin completou 155 anos desde sua publicação. No dia 24 de novembro de 1859, Charles Darwin divulgou o seu estudo sobre a evolução animal e sobre a seleção natural. Pensando no tamanho de sua importância, pesquisadores do American Museum of Natural History e do Darwin Manuscripts Project decidiram digitalizar e disponibilizar todos os escritos do cientista.
Trabalhando desde 2007 nisso, a equipe garante que 50% dos documentos já podem ser encontrados na rede. Em declaração oficial, o museu disse: “Os mais de 16 mil documentos acessíveis no site cobrem um período de 25 anos da história de Darwin. Essa foi a época que ele se convenceu dos conceitos de evolução, seleção natural, adaptação das espécies, árvores genealógicas e reuniu tudo em sua obra principal”.
Escritos do autor podem ser encontrados na rede (Foto: Reprodução)
No site, você poderá encontrar algumas curiosidades muito interessantes. Desenhos feitos em folhas; a primeira vez que “seleção natural” foi usada pela ciência; o primeiro título da publicação Origem das Espécies e muito mais. A equipe pretende finalizar o projeto até junho de 2015.
O time de pesquisa afirma: “O trabalho que Charles Darwin teve para escrever sua principal obra foi muito maior do que sentar com papel e caneta em uma mesa. O livro foi o fruto maduro de um prolongado processo de exploração científica, criatividade e interesse em evolução. Nós queremos mostrar todos esses manuscritos, queremos manter os dados massivos da pesquisa de Darwin vivos”.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Tales de Mileto

Este filósofo pré-socrático é considerado o pai da filosofia ocidental. Descendente dos fenícios, ele nasceu em uma ancestral colônia da Grécia, Mileto, localizada na Ásia Menor, atualmente conhecida como Turquia, aproximadamente entre 624 e 625 a.C.
Tales, supostamente um dos sete sábios da Antiga Grécia, instituiu a Escola Jônica e estabeleceu sólidos conhecimentos sobre a verdade, a totalidade, a ética e a política, temas ainda atuais em nossos dias. Suas reflexões giravam em torno da ‘natureza’, de seus quatro elementos fundamentais, terra, ar, fogo e água. Ele era um monista, ou seja, acreditava que tudo era constituído por uma substância primordial, neste caso, a água. Assim sendo, toda a vida teria se originado dela, embora seus discípulos divergissem quanto a ser este corpo a natureza essencial que a tudo permeia.
Seus principais seguidores foram Anaxímenes, que via no ar a essência primitiva, e Anaximandro, que mantinha a crença em uma infinitude de esferas em constante interação. Os mais importantes divulgadores de sua obra, uma vez que ele nada escreveu sobre seus pensamentos, foram Aristóteles, Platão e Diógenes Laércio.
Tales era um filósofo visionário, que percebia a realidade muito além de seu tempo. Vivendo 2460 anos antes de Charles Darwin, afirmava que o mundo teria evoluído da água por processos naturais. Ele caminhava em todas as direções do conhecimento, da geometria aprendida inicialmente no Egito, por ele transmitida para os gregos, ao uso do relógio solar para dimensionar o tempo; da percepção das diferentes estações do ano, aos estudos sobre a alma humana. Foi também o pioneiro na compreensão do eclipse solar, chegando a prever um destes fenômenos.
O filósofo envolveu-se igualmente em experiências inovadoras com o magnetismo, que na sua época representava apenas uma mera curiosidade em torno de matéria-prima constituída de ferro. Ele foi um dos primeiros estudiosos a rejeitar a visão religiosa dos gregos antigos, que viam nos componentes da Natureza, como o Sol, a Lua, e outros, elementos sagrados, deuses a serem reverenciados.
Tales de Mileto e os outros integrantes da Escola Jônica percebiam a constante transmutação das coisas, que se convertiam umas nas outras. Sendo assim, ele concluía que tudo partia de um princípio basilar, conhecido também como arché. Ele procurava, assim, uma nova compreensão do Universo, através da razão e da experiência, rompendo com o ponto de vista meramente religioso.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

KARL MARX – A ALIENAÇÃO E A MAIS-VALIA

A Sociologia sob o prisma de Karl Marx

O importantíssimo teórico Karl Marx, se faz presente ainda hoje em estudos das mais variadas áreas, e suas teorias e conceitos continuam sendo revisitados, sendo cruciais para a compreensão de alguns aspectos de nossa sociedade. Suas análises, como se sabe, voltaram-se especialmente para questões sociais e históricas, análises de conjunturas e de lutas inerentes ao capitalismo moderno.
Marx dedicou-se a discussões que ainda hoje são elucidativas para que possamos compreender uma sociedade que, segundo o próprio autor, move-se pela luta de classes, uma vez que ele acredita que seja esse o motor de toda a  historia. O marxismo, assim, tornou-se corrente de pensamento e até os dias de hoje orienta a organização de muitos movimentos sociais. Um dos mais importantes conceitos do marxismo é o da alienação e também o da mais-valia, os quais, ambos serão discutidos neste espaço, começando pelo primeiro.

A Alienação para Karl Marx

Alienação, para Marx, carrega um sentido negativo, diferentemente do que é para Hegel. Trata-se de uma condição onde o trabalho ao invés de ser instrumento para a realização plena do homem e de sua condição de humano torna-se, pelo contrário, um instrumento de escravização, acabando por desumanizá-lo, tendo sua vida e seu próprio valor medidos pelo seu poder de acumular e possuir.
Karl Marx reconhece na era moderna e em suas novas formas de produção grande responsabilidade pela alienação do homem. Quando o trabalho fica cada vez mais especializado e dividido, o trabalhador fica de tal forma afastado daquilo que produz, que é incapaz de reconhecer-se no produto final de seu esforço.
Dessa forma, o que era antes um homem, acaba por tornar-se apenas uma maquina repetidora dos mesmos esforços, e cada vez mais em busca de possuir capital, num sistema onde é muito comum que esse trabalhador não tenha sequer acesso ao produto de seu próprio trabalho. Assim, o que inicia com uma divisão do trabalho, acaba por configurar-se também como uma divisão social. Esse tipo de organização e essa configuração do mundo do trabalho foram essenciais para o desenvolvimento da sociedade capitalista nos moldes como conhecemos hoje.

Marx e a Mais-valia

Outro conceito importantíssimo para se compreender a organização dos modos de produção capitalista e suas formas de apropriação do trabalho é aquilo que Marx denominou como Mais-valia. Esse termo, muito famoso, é utilizado para referir-se à diferença existente entre o valor da mercadoria produzida, a soma do valor de seus meios de produção e o valor do trabalho, que apresenta-se como abase de lucro no sistema capitalista.
Este, no entanto não é um conceito tão simples quanto possa parecer à primeira vista, isso porque o próprio Marx, aos poucos, foi percebendo que muitos destes valores não eram grandezas concretas e absolutas, mas sim passiveis de muita variabilidade indo de uma sociedade para a outra.
Por exemplo, foi possível constatar que os valores do trabalho não eram reduzidos ao valor de sobrevivência, mas que em cada sociedade ele agregava valores de costumes e culturais, dessa forma, na França, por exemplo, esse valor levava em conta que era algo impraticável esperar que os operários contentassem-se em viver sem seu vinho.
Sabe-se no entanto que, invariavelmente, os valores atribuídos ao trabalho e mesmo a todo processo de produção eram absurdamente inferiores ao valor cobrado pelo produto final, gerando dessa forma lucros exorbitantes para o capitalista, o dono dos meios de produção. E assim é até hoje, fazendo com que não seja difícil perceber, mais uma vez, a alienação do trabalho. Os honorários obtidos por um trabalhador de linha de montagem de automóveis pode sim suprir suas necessidades de sobrevivência, no entanto, dificilmente dará a esse operário acesso pleno ao produto final de seu trabalho.

A Mais-valia-absoluta

Alem de todos esses fatores, Marx conseguiu perceber outras formas adotadas pelo capitalistas para ampliarem suas margens de lucro. Uma vez pago o salário de mercado pelo uso da força de trabalho, não raro são os casos em que eles valem-se de estratégia como ampliação da jornada de trabalho, mantendo, no entanto o valor pago numa constante invariável, embora a produção seja aumentada. A isso Marx chamou mais-valia-absoluta.
Existem também os casos em que ampliava-se a produtividade física do trabalho através da mecanização dos modos de produção, ampliando assim os números e os lucros. Através desses moldes foi possível notar-se que o lucro, no sistema capitalista, não eram resíduos, e sim montantes passiveis de serem aumentados através dessas estratégias dos próprios capitalistas, que visavam o aumento da produtividade e conseqüentemente dos lucros, sem aumentar os gastos com a força de trabalho.

A História de Gilgamesh

A realização de uma obra de arte, perdurável através dos séculos, é um dos mais notáveis “milagres” feitos pelo homem. É a realização intelectual e artística cuja verdadeira origem permanecerá largamente incompreendida.
Há nove mil anos, um sumério inventava a escrita e inaugurava a Era Histórica. É interessante salientar as notáveis conquistas intelectuais e materiais desse povo, inventor da escrita, fundador da civilização, iniciador da tradição intelectual do Oriente e do Ocidente, e berço das artes, das letras e das ciências.

A Literatura Suméria, a mais antiga conhecida pela humanidade, é paradoxalmente a que mais demorou a ser conhecida pelo homem moderno. Seu estudo foi iniciado após a descoberta da escrita e do povo sumério em meados do século passado. Está documentada em milhares de tabuletas de argila escavadas nas cidades mesopotâmicas. A maior parte desta literatura era formada de poemas de mitos e lendas, cantares épicos, documentos historiográficos, ensaios curtos e longos, dizeres e provérbios, assim como hinos e lamentações provavelmente usados nos cultos religiosos.
Cantar de Gilgamesh
O Cantar de Gilgamesh , considerada a obra-prima da literatura suméria, é um canto épico que narra as façanhas do Rei-herói, Gilgamesh, da antiga cidade de Uruk, na Mesopotâmia. O tema central vai além da narração de viagens, lutas e aventuras, temores e sonhos do protagonista: canta-se à amizade, ao amor, aos sentimentos de vingança, fala-se de opressão, de arrependimento e, acima de tudo, do temor à desaparição final e ao esquecimento após a morte. Este último é que leva Gilgamesh a uma procura insólita, desesperada e falida, mas não inútil, pela sua transcendência, da imortalidade.
Gilgamesh, talvez, o primeiro personagem histórico, viveu em torno do ano 2700 a.C., reinou em Uruk (a Erech bíblica) e construiu suas muralhas. Na lendária relação dos reis sumérios, ele é o sexto rei após o Dilúvio.
A obra em si parece, às vezes, obscura, principalmente por ser conhecida de forma incompleta. A mais antiga versão existente do Cantar foi escrita em sumério, por volta do ano 2000 a.C., sendo cópia de trabalho muito mais antigo. No próprio Cantar consta que, após retornar de suas viagens, o próprio Gilgamesh o escreveu, numa estela de pedra que colocou na base das muralhas de Uruk. Teria, desta forma, sido escrito poucos séculos (quatro a seis?) após a invenção da escrita.
Ponto de partida da literatura universal, a obra surge tão evoluída que, ainda hoje, mesmo separados pela barreira de 47 séculos, pela diferença de sensibilidade e pela nossa cultura moderna, configura-se uma leitura apaixonante, ainda que pouco conhecida fora dos círculos acadêmicos.
Ela nos toca não apenas pela sua beleza, mas também pela sua criatividade temática e técnica; os efeitos e técnicas poéticas que utiliza são invenções da literatura suméria, que a civilização atual continua usando, aperfeiçoados nos quatro a cinco milênios transcorridos:
O uso da métrica e da rima era desconhecido, mas praticamente todos os demais artifícios e técnicas poéticas foram usados com habilidade, imaginação e efeito: repetição e paralelismo, metáfora e símil, coro e refrão. Na narrativa poética suméria, contos épicos e míticos, por exemplo, abundam os epítetos estáticos, longas repetições, fórmulas recorrentes, longas e demoradas descrições e longos discursos. (Kramer, Os Sumérios, sua História, Cultura e Caráter, The Univ. of Chicago Press, 1963).
Esta e outras obras sumérias foram amplamente disseminadas, conhecidas e copiadas no Oriente Médio durante mais de dois milênios, recontadas e parcialmente incorporadas pelos escribas (e pelos nar ou aedas) em obras maiores. Grandes escritores usaram livremente temas sumérios, como no Gênese e no Livro de Jó, por exemplo, e também em obras muito posteriores do Ocidente, como a “Descida ao Inferno” retomada por Dante na Divina Comédia. Homero possui ampla dívida com os sumérios: temática, nas viagens de Ulisses, na descida aos infernos, e técnica, no uso de epítetos, a invocação e colaboração dos deuses e a convivência, amor e ódio, dos mesmos com os humanos e até a promessa de imortalidade àqueles a quem canta.
A existência desta obra-prima foi revelada pelo arqueólogo inglês George Smith que, em 1872, entre os restos da Biblioteca Real de Nínive, encontrou partes da descrição do Dilúvio Universal, semelhante mas muito anterior ao do Gênese do Antigo Testamento hebraico.
O Poema começa com o Elogio a Gilgamesh:
Ó! Divino Gilgamesh, que todo o viu
Eu te farei conhecer em todas as terras.
Eu ensinarei sobre (aquele) que experimentou todas as coisas.
Anu deu-lhe a totalidade do conhecimento do Todo.
Ele viu o Segredo, penetrou o Mistério.
Ele revelou o que houve antes do Dilúvio.
Ele fez grandes viagens, até o limite de suas forças
e quando voltou em paz…
Ele gravou numa estela de pedra a narração de suas proezas
e construiu as muralhas de Uruk, nosso lar,
e as paredes do Templo de Eanna, o sagrado santuário.
[...]
E, sobre o próprio Gilgamesh, diz:
Ele cruzou o oceano, os vastos mares até o sol nascente,
Ele explorou as regiões do mundo, buscando vida.
[...]
Dois terços dele são divinos, um terço é humano.
A grande deusa Aruru fez o modelo do seu corpo,
ela preparou sua forma…
… belo, o mais bonito dos homens,
… perfeito…
Gilgamesh é o pastor de Uruk, o refúgio,
decidido, eminente, conhecedor e sábio.
[...]
Gilgamesh, o Rei de extraordinária fortaleza e beleza, exerce seu poder às vezes com sabedoria, às vezes despoticamente: oprime os homens jovens e as mulheres de Uruk, sem que ninguém possa se lhe opor. Os deuses resolvem, então, criar um homem que seja o seu similar: Enkidu, o homem primitivo, nascido e criado nos campos entre as bestas selvagens, o mais forte dos homens. A partir desse momento deve-se produzir o encontro de Gilgamesh e Enkidu, isto é, da civilização com a barbárie. Enkidu vai enfrentar Gilgamesh que já o espera prevenido pelos seus sonhos, interpretados por sua mãe, a deusa Rimat-Nimsum. Depois de uma luta de titãs prevalece Gilgamesh, sendo reconhecido por Enkidu como seu superior. Tornam-se então amigos inseparáveis, transformando o mútuo respeito em verdadeira amizade que nunca haviam experimentado antes.
Gilgamesh convence Enkidu a viajar até a Floresta dos Cedros (no Líbano atual), com o intuito de matar o Guardião dos Cedros, Humbaba, o Terrível, cortar o Cedro Sagrado e obter glória e fama eternas. Apesar da oposição dos conselheiros, os amigos partem, confiantes na proteção do Deus-Sol, Shamash. Ao chegar à Floresta dos Cedros, Enkidu lembra o formidável poder de Humbaba e tenta convencer Gilgamesh a abandonar uma luta impossível e retornar. Mas Shamash os protege e, num trecho do Cantar de difícil compreensão, enfrentam Humbaba. Este é finalmente dominado pelos amigos, após uma luta de gigantes. Enkidu, temeroso das conseqüências de um revide, se deixarem Humbaba com vida, insiste que ele deve ser morto. O monstro amaldiçoa Enkidu condenando-o a ter curta vida e Enkidu, com seus braços formidáveis e sua enorme espada, corta a cabeça de Humbaba, despertando a ira do poderoso deus Enlil. Para aplacar o deus, Enkidu corta o maior dos cedros para com ele construir a Grande Porta do Templo de Enlil, em Nippur. Após terem cortado os cedros, iniciam o retorno e, à beira do Eufrates, constroem balsas que os levam de volta a Uruk. Enquanto Enkidu governa a balsa, Gilgamesh carrega triunfalmente a cabeça cortada de Humbaba.
De volta a Uruk, a bela Ishtar, deusa do amor, propõe casamento a Gilgamesh, mas ele recusa, após lembrar os trágicos destinos dos anteriores amantes da deusa. Ishtar, desprezada, é um inimigo temível; na sua ira ela pede ao seu pai, o deus Enlil, para enviar o Touro dos Céus e destruir Gilgamesh, sua gente e sua cidade. Contra toda expectativa, os dois amigos conseguem matar a besta. Ishtar apela à justiça dos deuses que, afrontados pela morte de Humbaba e agora pela do Touro, decidem que um dos amigos deve morrer e esse será Enkidu, já amaldiçoado pelo Guardião dos Cedros.
Enkidu fica sabendo de sua morte iminente por um sonho. Na sua comovente revolta frente à injustiça, apela ao deus Shamash que, em sábia resposta, o faz lembrar que deve agradecer pelas coisas boas que viveu e pelo profundo sentimento de perda que deixará atrás de si. Enkidu adoece e, apesar do cuidado constante e devotado de Gilgamesh, que é o mais sábio, morre após doze dias. Gilgamesh, arrasado pela perda do amigo, rende-lhe honras, constrói uma estátua em sua memória, rebela-se contra o destino e percebe que alcançar a fama entre os homens pouco ou nada significa frente ao horror do decaimento físico e da morte.
Gilgamesh rebela-se contra a Morte e dedica-se a procurar o segredo da vida eterna. Para tanto, decide procurar o único homem que a conseguiu – Utnapishtim, o Longínquo – o Noé sumério, a quem, após sobreviver ao Dilúvio, os deuses concederam vida eterna.
Numa viagem cheia de perigos, Gilgamesh encontra criaturas fabulosas e estranhas que o advertem da impossibilidade de sua procura, mas, com férrea vontade, continua e acha o barqueiro de Utnapishtim, que o levará ao encontro deste através das Águas da Morte. Quando, finalmente, o encontra, após jornadas agonizantes, é surpreendido, pois em vez de encontrar um ser extraordinário, cujo segredo de imortalidade estava disposto a tomar pela força, encontra um homem comum. Perplexo, diz:
Estava decidido a lutar com você,
Mas agora meu braço pende inútil perante você.
Diga-me, como é que você, na Assembléia dos Deuses, achou a vida eterna?
E Utnapishtim responde:
Eu te revelarei, Gilgamesh, o que é secreto,
Dir-te-ei um segredo dos deuses!
Utnapishtim revela então o que aconteceu no Dilúvio e como ele com a sua família, parentes, amigos e animais foram salvos pela sua piedade e obediência ao deus Ea (nome sumério do deus Enki, deus das águas doces e criador do homem e da sabedoria). O deus Ea, após a terminação do Dilúvio, intercede a favor de Utnapishtim perante o poderoso deus Enlil, o guerreiro. Este, que ordenou o Dilúvio, fica irritado pela sobrevivência dos humanos e suspeita da lealdade de Ea que, argumentando eloqüentemente, convence-o de que não revelou o segredo. Enlil perdoa Utnapishtim e ainda o converte, bem como a sua mulher, em seres imortais.
Terminado o relato do Dilúvio e, frente à determinação de Gilgamesh, Utnapishtim lhe diz:
Então, quem convocará agora (a Assembléia) dos deuses para ti,
para que possas achar a vida que procuras?
Mas, já que o desejas, submete-te à prova:
deves resistir ao sono durante seis dias e sete noites.
Gilgamesh, esgotado fisicamente pela penosa viagem, cai no sono logo e dorme sete dias seguidos. Ele falha no teste, sem dúvida devido à terça parte humana de sua natureza, e deve retornar.
Antes de voltar, a esposa de Utnapishtim intercede frente a este para dar a Gilgamesh uma recompensa pelos seus esforços, dizendo:
Gilgamesh chegou aqui cansado e com as forças esgotadas.
O que você lhe dará para que retorne à sua terra com honra?
E Utnapishtim, dirigindo-se a Gilgamesh, já no barco:
Eu te revelarei um segredo dos deuses, uma coisa secreta.
Embaixo da água existe uma planta,
ela tem espinhos como uma sarça,
como uma roseira ela te ferirá as mãos
Se conseguires apanhá-la, terás nas mãos a planta que rejuvenesce.
Gilgamesh mergulha no fundo do mar, colhe a planta e a segura, embora esta lhe ferisse as mãos. A planta lhe permitiria viver de novo a sua vida, com a vantagem da sabedoria adquirida na sua viagem que contém segredos dos deuses. Mas ele duvida e decide primeiro testar a planta com os velhos de Uruk e, depois, comê-la. Há aqui um curioso ponto de interrogação. Por que Gilgamesh não come a planta imediatamente? Teria desconfiado de Utnapishtim? Logo ele, que percorreu o mundo real e o fantástico para encontrá-lo?
Inicia o retorno, cruzando a porta do mundo que antes tinha franqueado. Quando param para descansar, à noite perto de uma fonte de águas frescas, Gilgamesh vai tomar banho e uma serpente, sentindo a fragrância da planta, silenciosamente sai das profundezas, apodera-se dela, muda logo de pele e submerge, para desespero de Gilgamesh que, impotente, a vê desaparecer nas profundezas.
Então Gilgamesh sentou-se e chorou,
Grossas lágrimas correram-lhe pelo rosto.
[...]
Encontrei o sinal da vida e agora o perdi.
A esperança acabou. Gilgamesh retorna ao lar, mais velho e de mãos vazias, tendo agora entendido que não existe a chance de uma segunda vida real e muito menos a de imortalidade.
No fim da viagem, já nas muralhas de Uruk, Gilgamesh, com voz estremecida, mostra a muralha a Ur-shanabi, o barqueiro.
Repete-se o início do Cantar, só que agora as palavras são ditas pelo próprio Gilgamesh. Desta vez trata-se realmente de um solilóquio: perdida a esperança da vida eterna, Gilgamesh relembra e faz uma retrospectiva de sua vida. Ur-shanabi é apenas um símbolo do povo, cuja aprovação final talvez seja seu único consolo:
Ó! Divino Gilgamesh, que todo o viu.
Ele viu o Segredo, penetrou o Mistério.
Ele revelou o que houve antes do Dilúvio.
Ele fez grandes viagens, até o limite de suas forças
e quando voltou em paz…
Ele gravou num estela de pedra a narração de suas proezas.
A seguir, com uma reprise dos elogios feitos no início, termina a XI tabuleta. A maioria dos autores preferem terminar aqui o relato. Contudo, na XII tabuleta encontram-se dois episódios importantes “A descida ao Inferno” e “A Morte de Gilgamesh”, os mais antigos junto com a aventura da “Floresta dos Cedros”. A “Morte de Gilgamesh” parece ser a repetição de fórmulas rituais fúnebres, possuindo então alto valor arqueológico. “A descida ao Inferno” pode ser uma variante do sonho de Enkidu, prevendo a sua morte.
A descida ao Inferno
O episódio começa de forma desconexa, com imagens e visões que pareceriam extraídas de um sonho. Depois de uma sucessão de imagens, quase incompreensíveis para a nossa sensibilidade moderna, temos:
A flauta e a harpa caíram na Grande Mansão (o inferno)
Gilgamesh enfiou nela sua mão, mas não pôde alcançá-las.
Enfiou o pé, mas não pôde alcançá-las.
Então Gilgamesh sentou-se frente ao palácio dos deuses do mundo subterrâneo,
derramou lágrimas e ficou com o rosto pálido.
Ó minha flauta, ó minha harpa!
Minha flauta cujo poder era irresistível!
Minha flauta, minha harpa, quem as trará dos infernos?
Enkidu se prontifica a ir aos infernos procurá-las. Gilgamesh dá-lhe então conselhos para facilitar o seu retorno, como o de não usar ungüentos perfumados, nem vestir roupas limpas, nem deixar o seu arco na terra etc., para que os espíritos não o prendam. Mas, confiando nas suas forças, Enkidu faz tudo errado e a terra “o pega”:
O destino não o possuiu, nenhum espectro o possuiu, a terra o possuiu,
Não caiu sobre o campo de batalha, a terra o possuiu.
Gilgamesh tenta de todas as formas conseguir, através dos deuses, a libertação de Enkidu. Mas Enlil nem o escuta. Finalmente o deus Ea, criador e protetor dos homens, comanda ao deus dos infernos, Nergal:
Abre o fosso que comunica com os infernos,
Que o espírito de Enkidu volte dos infernos
e possa falar com seu irmão!
Aberto o fosso por Nergal:
O espírito de Enkidu, como um sopro, saiu dos infernos
E Gilgamesh e Enkidu falaram:
- Ó meu amigo, meu caro Enkidu,
diga-me a lei do mundo subterrâneo, você a conhece.
- Não, não te direi a lei que conheço.
Não te direi a lei para que não te sentes a chorar!
- Seja assim. Quero sentar-me e chorar!
Então, seguem-se as revelações que Gilgamesh mais teme:
Aqueles que quiseste, os que eram gratos a teu coração,
todos os que acariciaste,
estão agora roídos pelos vermes,
estão cobertos de pó.
Seus espíritos não têm descanso nos infernos.
Os detalhes deveriam ser muito atemorizadores para o espírito sumério da época e nos lembram passagens do “Inferno” da Divina Comédia de Dante.
Não há retorno real de Enkidu, que, vítima de sua fidelidade e por não ter respeitado a sabedoria dos conselhos de Gilgamesh, que representa o Saber e a Ciência, deverá ficar para sempre nos infernos.
Morte de Gilgamesh
O destino de Gilgamesh, decretado pelo pai dos deuses, Enlil, está cumprido:
Na Terra inferior, na casa das trevas, uma luz o iluminará,
Nenhum homem famoso uma lembrança como a dele deixará,
As gerações futuras não terão uma lembrança que se compare à dele.
[...] sem Gilgamesh não haverá luz.
Ó Gilgamesh, foi-te dada a realeza segundo o teu destino.
A vida eterna não era teu destino.
Humildes e poderosos da cidade choram a morte de seu herói e protetor. Esposa e filho, concubinas, músicos, bufos, todos os que comeram de sua mesa, servos, mordomos e os que viveram no seu palácio pesam as suas oferendas para Gilgamesh e para Ereshkigal, a Rainha da Morte e para os deuses dos mortos.
O destino falou. Qual um peixe preso no anzol,
Gilgamesh está deitado em seu leito,
Como gazela presa no laço
[... ]
Gilgamesh, filho de Ninsun, está em seu túmulo
No altar das oferendas ele pesou o pão,
No altar das libações ele verteu o vinho.
Nesses dias partiu Gilgamesh, filho de Ninsun
o rei, nosso senhor, sem igual entre os homens,
Aquele que não faltou a Enlil, seu deus.
Ó Gilgamesh, senhor de Kullab, grande é a tua glória!
Termina assim a Épica mais antiga da humanidade. Não só com a morte física do herói, mas com o seu fracasso na procura pela vida eterna.
Gilgamesh morre junto com os seus sonhos, mostrando assim que é humano. A partir dessa verificação, só lhe resta voltar à sua amada Uruk, para deixar a marca perene de sua existência.
Morta a esperança, Gilgamesh alenta nas suas façanhas, e por isso é que faz sua retrospectiva vital ao barqueiro Ur-shanabi, único a testemunhar sua luta impossível contra o destino efêmero dos humanos.
Por isso é que escreve na pedra o que viveu na vida:
Ó Gilgamesh, foi-te dada a realeza segundo o teu destino.
A vida eterna não era teu destino.
Quando os deuses criaram o homem
deram-lhe como atributo a Morte,
mas a Vida, a Vida Eterna, essa, só ficou para eles.
Este poderia ser o epitáfio na lápide de Gilgamesh, a gigantesca figura que, através dos séculos, marca a despedida definitiva da Humanidade da escuridão impenetrável da Pré-História, que ainda se entrevê nos detalhes do relato do sábio Utnapishtim do mundo antes do Dilúvio Sumério.
Gilgamesh não atinge a imortalidade fútil dos deuses sempiternos que, na sua imobilidade, mais semelham a morte do que a vida. Ele atinge a imortalidade dos arquétipos humanos na memória dos seus iguais, os homens. Obras materiais, como a muralha de Uruk, persistem após 47 séculos de história de uma das regiões mais conturbadas do mundo. Mas ele perdura pela sua constante procura da essência da eternidade, pela consciência insigne de seu conhecimento, pelo que gravou na pedra e impregnou na mente das gerações que o seguiram, cumprindo assim as proféticas linhas finais do poema.
Ele perdura porque a história de sua ciência, de sua força de vontade e de sua coragem nos foram transmitidas – talvez por ele mesmo – e porque elas encarnam o ideal humano de uma vida onde cada obstáculo dá origem a um novo esforço que o leva à contínua superação.
Como Modelo Literário, o Cantar teve as maiores conseqüências imagináveis. Conhecido de toda a antigüidade, ele foi imitado e inspirou obras-primas que conhecemos muito antes, como o Gênese do Velho Testamento hebraico e a Odisséia.
O Cantar, conhecido até poucos séculos depois de Cristo, perde-se com a decadência e desaparecimento da Babilônia. Ele é reencontrado nas escavações feitas por volta de 1860, por arqueólogos ingleses em Nippur e alemães em Uruk (atual Warka) e depois na própria Babilônia. Assistimos, aos poucos, ao renascimento de Gilgamesh… E, talvez, essa seja a chance que a história, reencarnando a “planta do rejuvenescimento” de Utnapishtim, dá a Gilgamesh: viver sua segunda vida na memória e na imaginação do homem moderno.
Ele conquistou a imortalidade da espécie, devido à terça parte humana de sua constituição, a mesma que, paradoxalmente, lhe impediu de atingir o eterno absoluto dos deuses.
Mas, não é isso mesmo o que o poeta lhe promete no início do Cantar?
Mas, eterno é o poeta ou a personagem?
Poeta e personagem identificam-se e, enquanto nos contemplam, com a perspectiva de 47 séculos e a condescendência que dá a longa intimidade com o transcurso milenar do tempo, cada um eterniza-se no outro e na mente e na imaginação dos demais homens.